21/11/2020

 BINÓCULO, UM ESQUECIDO INJUSTAMENTE, E UM AMIGO NA “CAÇA” AOS MESSIER


        O que mais observamos nos Grupos que se identificam com a Astronomia, são postagens e comentários de aficionados expressando o seu “sonho” em possuir um telescópio para iniciar na Astronomia. Esse “sonho de consumo” é de certo modo algo absolutamente normal. Mas, ter um telescópio exige acima de tudo, focar em uma objetividade no que se pretende com ele na Astronomia. Dessa forma, o aficionado deveria estudar mais o uso de um telescópio para ele fazer do seu “sonho” algo realizado sem frustração. Por exemplo: Um telescópio que possui uma montagem Equatorial deve-se ajustar primeiramente o Eixo Polar para a sua Latitude de observação. Depois, deve-se apontar o Eixo Polar para o Polo Sul Celeste onde a nossa referência é a estrela Polaris Australis (ou sigma-octans) na constelação de Octans que é o ponto mais próximo que temos do Polo Sul. Esse alinhamento deverá continuar alinhado durante toda noite de observação (acreditem, muitos ignoram esses ajustes). As montagens Equatoriais são projetadas para compensar a Rotação da Terra, tendo um eixo de rotação paralelo ao eixo de rotação da Terra. Quando ajustado corretamente, o observador fará apenas um movimento de compensação da Rotação da Terra, que é no Eixo de Declinação. Feito isso, o observador deve compreender a leitura dos discos graduações de Coordenadas Celeste onde também deve ajustá-los para obter mais precisão da localização do astro observado. Esse ajuste dos discos se faz apontando o telescópio em uma determinada estrela bem brilhante que se mostra a olho nu em que você já sabe previamente as suas coordenadas de Ascenção Reta e Declinação onde fará ajustar círculos graduados para coincidir com as coordenadas dessa estrela.

Perceba que o seu “sonho” em ter um telescópio pode ser algo frustrante se você não saber usar o telescópio na sua forma otimizada que se deve ter. Infelizmente, a maioria dos aficionados que conseguem um telescópio, basicamente o tiram da caixa, não fazem os ajustes necessários, e imediatamente apontam para Lua onde pensam estarem fazendo Astronomia. Mas, quando ele arrisca em observar um objeto do céu profundo (galáxias, aglomerados, e nebulosas), e mais ainda, deseja tirar fotos, torna-se uma ação que por vezes incomoda, e até impossível. Pois, esses ajustes prévios fazem com que um determinado astro fique mais tempo no campo da ocular onde praticamente se usa um movimento no eixo de Declinação para compensação da Rotação da Terra. Caso contrário, esse observador ficará fazendo movimentos de zig-zag a todo momento, e acaba desistindo de observar de forma sistemática os objetos do céu profundo por exemplo, e acaba assumindo uma postura de fracassado culpando o coitado do telescópio que não serve para essas observações.

ENTÃO, ONDE ENTRA TER UM BINÓCULO NESSE CONTEXTO???

          Primeiramente, é um erro enorme imaginar possuir telescópios ou lunetas para observar os astros. Um binóculo oferece um campo de visão bastante amplo, e conforto ao mesmo tempo, uma vez fazermos uso dos dois olhos ao mesmo tempo (visão estéreo). A escolha de um binóculo parte de duas caraterísticas distintas: Se quiser contemplar o Universo com os objetos do céu profundo (galáxias, aglomerados e nebulosas, um binóculo de baixa potência em aumentos é o ideal, tipo 7 vezes de aumentos (7X35). Por outro lado, se deseja um binoculo de maior potência de aumentos para ver as crateras da Lua, planetas, e as manchas solares pode ser um que aumente 12 vezes (12X50). Se faz necessário ressaltar a seguinte relação: Conforme o aumento amplia, mas pesado fica o binóculo (no seu peso em si, e no seu bolso em ser mais caro). Um binóculo ideal intermediário é um 10X50, amplia 10 vezes, e possui uma boa abertura de campo. Mas, uma coisa é certa, todo e qualquer tipo de binóculo deve ser apoiado em um tripé para melhor otimizar o seu poder de observação. Se sabe que fazendo uso de um binóculo segurando diretamente com as mãos, se perde em torno de 30% da capacidade de captação no seu ganho visual. Isso se deve mediante o ato de observação ocorrer um incomodo muscular onde não se tem estabilidade com o mesmo. Então, um tripé de máquina fotográfica, ou mesmo, improvisando um cabo de vassoura para apoiá-lo é de grande ajuda. 

Os binóculos não exigem carregarmos enormes tripés, tubos, e ajustes complexos. Como também, ele nos proporciona uma visão “estéreo” onde comodamente você observa com os dois olhos de maneira simultânea estando em um campo de visão bem amplo fazendo você realmente “viajar na nave” de Carl Sagan pelo Universo. E tem mais: Por incrível que possa parecer, um preço de um bom binóculo é ainda mais em conta do que certos telescópios e lunetas disponíveis para comprar.

Particularmente, sou um defensor nato dos binóculos, e sempre aconselho que os aficionados iniciantes na Astronomia passem por certos “estágios” antes de desejarem possuir um determinado instrumento, seja ele um binóculo, luneta ou telescópio. Bem como, desejem adentrar nas práticas da Astrofotografia. É necessário que o aficionado venha passar por alguns “ESTÁGIOS” são eles:

·         1° Estágio: Observem por um tempo o céu a olho nu, reconhecendo as constelações, se familiarizando com a formação de movimento das nuvens, entender o quanto a transparência (resolução) da Abobada Celeste altera no início da noite, na madrugada, e um pouco antes do amanhecer. Tente identificar os planetas, e identifique suas trajetórias na Eclíptica com as 12 constelações zodiacais. Depois, busque identificar com o apoio de um planisfério, ou programas que simulam o céu, as estrelas de 1° grandeza nas principais constelações.

·         2° Estágio: Adquira um BINÓCULO, onde acesse este artigo que elaborei com dicas e orientações que vão lhe ajudar bastante no melhor uso de um binóculo (https://uba-messierpolman.blogspot.com/search?q=OBSERVAÇÕES+DOS+MESSIER+A+OLHO+NU).

·         3° Estágio: Compre uma luneta, ou telescópio.

              Se achas desnecessários esses “estágios”, e venha decidir pular para o último tendo uma luneta ou telescópio, muito provavelmente você fará parte de um grupo de aficionados que se limitam em contemplarem o céu, e não fazem observações sistemáticas na Astronomia onde cerca de 70% da produção observacional que se mostra na Astronomia vem dos astrônomos amadores sistemáticos espalhados pelo Mundo. Bem como, se achas um binóculo um instrumento precário para as suas pretensões astronômicas, faço-lhe lembrar que o primeiro telescópio de Galileu Galileu tinha uma abertura medíocre de 26 milímetros, e ampliava apenas 8 vezes onde havia uma aberração cromática significativa, e ele conseguiu revolucionar a Astronomia Moderna. Então, já se perguntou se Galileu tivesse um binóculo 10 X 50 que facilmente você encontra no Mercado com um preço acessível ???

            Não perca tempo ignorando um binóculo, e se tem um esquecido nos fundos de um guarda-roupa corra para pegá-lo e faça suas observações astronômicas o quanto antes em astros bem interessantes como por exemplo:

GALÁXIAS:

a) M-31 Andromeda = Galáxia espiral de magnitude 4,8

b) M-33 Triangulum = Galáxia espiral, que curiosamente é mais visível por binóculos do que por instrumentos de médio porte. Magnitude 6,7

c) Nuvem Maior de Magalhães = Galáxia irregular bem visível no nosso hemisfério Sul, tendo uma dimensão aparente de 6º

d) Nuvem Menor de Magalhães = Galáxia Irregular, análoga a anterior, e dimensão aparente de 3,5º

NEBULOSAS:

a) M-8 Sagittarius = Nebulosa com magnitude 6

b) M-16 Serpens = Esta nebulosa, como a maioria, brilha pela ação de pequenos cúmulos de estrelas brancas e azuis em seu interior. Sua mag. é 7

c) M-17 Sagittarius = Nebulosa que lembra o número “2”, sua magnitude é 7

d) M-27 Vulpecula = Nebulosa planetária, sendo um pouco difícil observar pois sua magnitude é 8

e) M-42 Orion = “A grande nebulosa”, sua magnitude é 5

CÚMULOS:

a) M-6 Scorpius = Cúmulo galáctico de magnitude global de 4,3, fácil observação.

b) M-13 Hercules = Cúmulo globular, com aparência difusa vista de binóculos. Magnitude 6

c) M-37 Auriga = Cúmulo galáctico formado por cerca de 150 estrelas. Magnitude 6,2

d) M-44 Cancer = Cúmulo galáctico, possui uma visão excelente vista no binóculo. Magnitude 4,5

e) M-45 Taurus = Cúmulo galáctico “As Plêiades”, Muito bonito visto em binóculos.

f) M-47 Puppis = Cúmulo galáctico formado por cerca de 50 estrelas de fácil observação.

g) NGC-869 e NGC-884 Perseus = “O duplo cúmulo”, soberba visão, as vezes são vistos a olho nu.

h) Omega Centauri = Cúmulo globular gigante, composto de um milhão de estrelas com mag. Média 4.

ESTRELAS BINÁRIAS:

a) Theta (θ) Tauri = Branca e laranja

b) Ipsilon (ν) Geminorum = grande contraste

c) Alfa (α) Leonis = muito brilhante

Enfim,

VOCÊ GOSTA DA ASTRONOMIA OBSERVACIONAL???

ENTÃO, JUNTE-SE Á NÓS !!!

Audemário Prazeres

Coordenador da Comissão Clube Messier-Polman

Presidente-fundador da A.A.P., em 1985

Um comentário:

  1. Sempre observo com um binoculo 12×50, mas como nao tenho o tripe a imagem balança muito. Acabei de adquirir um 7×35, depois de ler um artigo seu, professor Audemario. Vamos ver como me saio com ele. Depois conto por aqui como foi. Obrigada pelas importantes informaçoes sobre binoculos.

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