06/08/2020

GALERIA DOS NOTÁVEIS

Audemário Prazeres

             Eu poderia começar essas linhas enaltecendo o quanto a Astronomia é magnifica, e o quanto ela nos cabe em muitas reflexões diante nossa Galáxia. Ou ainda, poderia discorrer como foi fazer as observações de TODOS os objetos Messier que resultou em ter atingido o 3º Grau.  Mas, se isso eu fizesse, estaria repetindo as mesmas colocações nas quais já publiquei aqui no Blogger como dicas, dificuldades e orientações.

Sendo-lhes muito sincero, achei por bem narrar algumas linhas em total dedicação que tenho com a Astronomia relacionando-a ao meu saudoso Pai (foto dele ao lado da minha mãe acima).
Observar Galáxias, Aglomerados, e Nebulosas é algo que muito nos sensibiliza seja pela grandiosidade que esses astros possuem, ou pelo arranjo em composição que eles se apresentam. É sempre fascinante seja para nós que desenvolvemos à Astronomia, ou para o público leigo, imaginar e poder ver esses objetos do Céu profundo. Mas, a minha real motivação em ter observado todos os Objetos Messier, foi só, e unicamente, inspirado por uma justificativa infantil repassada carinhosamente por minha mãe quando um bom pai falece, e o filho sente saudades dele. Ou seja: no dia 04 de Fevereiro de 1971, o meu saudoso, e querido pai, Audemário Prazeres, falece de um infarto fulminante, e como ainda eu era criança, e não entendia bem a morte, a minha mãe me dizia quando eu perguntada "Cadê o meu pai ???", que "O seu pai tá no Céu, junto das estrelas". Então, eu imaginava que era possível estarmos nas estrelas, e quando eu olhava o Céu, a estrela mais brilhante eu dizia ser a do meu Pai. Hoje, passados todos esses anos, e com a ajuda do programa Stellarium, consultei pela primeira vez como seria o Céu na minha terra natal Carpina, no fatídico dia 04/02/1971, e me surpreendi com a disposição do Céu naquele dia onde muito provavelmente a estrela que eu dizia ser do meu Pai era Siriús não só por sabermos ser a mais brilhante vista no Céu, mas pelo arranjo em volta envolvendo também a Lua, onde mesmo sem termos noção de Astronomia, é inevitável uma criança não focar seus olhos em Siriús.   
  
Eu nasci, e morei quando criança em uma granja que foi realmente granja em tempos do meu avô, chamada "Granja Nossa Senhora dos Prazeres" na cidade de Carpina, zona da mata canavieira do Estado de Pernambuco, tínhamos como vizinhos de cerca, o antigo Instituto de Álcool e Açúcar - I.A.A., onde quando criança eu caçava, e "roubava" cana-de-açúcar para chupar em meio ao extenso canavial.  Por conta de uma promessa do meu avô, que era devoto da Santa Nossa Senhora dos Prazeres, o nosso sobrenome foi alterado por parte de pai (antes Muniz, para Prazeres, e pelo lado de mãe, permanecem em meus irmãos o Montenegro). Minha infância em nada se mostra associado ao campo das Exatas ou com a Astronomia. Eu brincava entre um pomar diversificado que havia na granja onde nasci, e adentrava ao imenso canavial do antigo I.A.A., para caminhar, e caçar entre as canas. Eu adorava escutar o “assobio” do vento entre as folhas do canavial, e descascar uma cana madura onde sabia identificar as do tipo 3X, POJ, soca, e a "moderna" 1040 que era desenvolvida nos laboratórios do antigo I.A.A. Sempre eu fazia essas “aventuras” com uma pequena faca peixeira para me desfrutar em rolar os gomos da cana buscando sua "alma doce". Depois desse “deleite” que era feito de forma escondido dos vigias, eu fazia uma urupema (tipo de camuflagem com as cascas e folhas da cana) para não descobrirem os bagaços mastigadas das canas que eu chupava.
Eu era muito apegado ao meu pai. Certa feita nos dias atuais, a minha irmã me disse que o único da família que não enterrou o pai é Audemário.  Confesso que ela tem mesmo razão. Afinal, minha filha do segundo relacionamento familiar no qual formei, que possui agora 9 anos, adora o avô paterno no qual se quer ela conheceu uma vez ele ter falecido 40 anos antes dela nascer. Então, carinhosamente ela o chama de "Vovô Dema" (ele era chamado pelos próximos de Dema vindo de Audemário, e o meu primeiro filho homem do primeiro relacionamento familiar também chama-se Audemário, onde o chamamos com muito carinho de Deminha).
Desde criança eu adorava brinquedos lógicos (foto abaixo à direita). O ato de montar e desmontar as coisas sempre me fascinou uma vez eu querer saber como ocorria o seu funcionamento. Talvez tenha surgido essa minha tendência pelo lado técnico, ou a iniciação científica. Uma coisa é certa: A minha influência com a Astronomia em NADA tem haver pela beleza dos astros, ou alguma referência cientifica tipo um astrônomo famoso como um Carl Sagan que foi, e é para muita gente. No meu caso, tudo começou com uma justificativa de uma boa mãe ao confortar o seu filho pela saudade do pai. Meu pai foi um bom homem, bom pai, bom esposo, e muito trabalhador ao ponto de ter as mãos cheias de calos ásperos por conta dele atuar no corte de couros quando montou uma fábrica de artefatos de couro voltados para proteção individual nas indústrias. Filho de um sapateiro (meu avô), famoso da cidade de Jaboatão dos Guararapes, o lidar com o couro era sua paixão.

Quando adentrei de fato na Astronomia foi 9 anos após a morte do meu pai onde eu tinha 15 anos de idade. Nessa época era o final da década de 70, e começo de 80. Acreditem, se alguém lhe disser que a década de 80 foi “mágica”, pode acreditar que foi mesmo. Lembro-me da visita do Papa João Paulo II ao Recife, onde fui com minha família vê-lo em sermão. Eu o admirava pelo fato dele ter ordenado o reexame do processo contra Galileu Galileu.  Em 1980 fiquei sabendo que foi inaugurado o maior telescópio do Brasil com espelho de 1,60 m em Brasópolis/MG, e os soviéticos da antiga URSS por meio da nave Saliut 7 colocou em órbita o primeiro satélite amador chamado "Iskara", onde deu para nós “meros mortais amadores” da Astronomia a perspectiva de que o Espaço tava realmente "aberto" para todos nós. Aquela época, sem o imediatismo de uma WEB, “mastigávamos” as notícias com grande frenesi. Por exemplo: Surgia a hipótese da extinção dos dinossauros por um cometa, e as sondas Vênus 13 e 14 desciam pela primeira vez em um outro planeta (Vênus) com imagens e análises onde eu amava ver essas notícias publicadas na antiga revista Manchete que sempre em casa tinha os exemplares regularmente.  Sem esquecer que o Monte Palomar fotografou o celebre cometa Halley pela primeira vez no seu último retorno (o que me inspirou em ser o Coordenador da primeira equipe do Brasil a redescobrir e fotografar o Halley entre 1986/87). Mas, o que me deixava imaginando muito das coisas do Universo, foi o fato da sonda Pionerr 10 ter deixado os limites do Sistema Solar carregando as primeiras gravações e desenhos da Terra. Poxa..., era impossível não "mergulhar" de vez nessa fantástica Ciência que é a Astronomia.
Meus primeiros instrumentos astronômicos, nos quais os tenho até o dia de hoje, foram: Um binóculo francês da antiga marca Clarop 8 X 30 que era do meu avô, e tem mais de 60 anos. E uma luneta refratora Tasco americana de 50 mm que tem mais de 40 anos onde ainda tenho a sua caixa de papelão. Ambos, me permitiram olhar muita coisa ao longo dos anos, e que estão em condições de uso onde muito preservo.


Enfim, esse meu relato não dediquei em técnicas e dicas observacionais. Isso como já disse aqui em linhas acima, o Blogger se mostra recheado com essas informações de todos os Messier que observei. Essa minha publicação visa um momento de nostalgia onde dedico à todos os bons pais sejam eles amantes ou não da Astronomia.

Audemário Prazeres
Coordenador da Comissão Clube Messier-Polman
A.A.P./U.B.A.





4 comentários:

  1. Parabéns pela sua postagem, meu amigo Audemário! História fascinante!

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  2. Gratíssimo pelas palavras estimado Marcos. Vamos em frente uma vez a "viagem" pelo Universo é longa. Um abraço.

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  3. Que história, Audemário! Estava aqui tomando meu café e apreciando a leitura, como se você estivesse contando aqui do lado. Muito obrigada por compartilhar conosco!

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  4. Estimada Lú, atividades nas quais não visamos atender o lado de uma profissão é compreendida por vezes como um hobby. Porém, quando comentamos a sua origem em nós, é impossível dissociarmos da paixão que carregamos. Obrigado por suas palavras.

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